A partir do golpe de 1964, não por acaso, durante todo o período militar ocorreu o chamado milagre econômico brasileiro. Um desenvolvimento econômico sem precedentes na história do país. As vozes dissonantes todas caladas, o sentimento de segurança generalizado e o apoio e incentivo do Estado, permitiu com que as elites industriais investissem sem medo. Desse modo, entre 1968 e 1973 o PIB do Brasil cresceu em números nunca vistos, na média de 11% ao ano. Esse milagre econômico só foi possível, no entanto, pelo endurecimento progressivo do regime militar e a segurança que isso representou para investidores nacionais e internacionais. Afastado o fantasma do comunismo e do populismo, investidores estrangeiros investiram bilhões de dólares no Brasil. A grande indústria automobilística investiu em fábricas e com o incentivo do governo concedendo crédito aos consumidores – sobretudo os da classe média, pois a grande massa de assalariados estava excluída desse processo – cresceu na média de 30% ao ano.
Mas toda essa prosperidade econômica se deu num clima sócio-político falso, mantido artificialmente, com base na violência e no autoritarismo. Uma sociedade que vive permanentemente nessas condições de calma e paz não existe: ou é sinal de que tem um povo que vive sob regimes repressivos ou sinal de que tem um povo que vive em condições deploráveis de educação e cultura e, consequentemente, incapaz de tomar consciência dos seus problemas sociais e econômicos.
Na medida que a liberdade aos sindicatos, aos movimentos populares e a sociedade civil aumenta, as reivindicações, os protestos e a oposição ao sistema aumenta proporcionalmente. Desse modo, pode-se dizer que durante os períodos democráticos no Brasil, a sociedade vivia convulsionada do jeito que deve viver uma sociedade com desigualdades sociais gritantes, escandalosas.
O fato é que, excluídas as condições normais - o direito ao contraditório da sociedade civil - nos anos 1970 – com risco zero - a economia se expande vertiginosamente. No entanto, das 500 maiores empresas brasileiras 71 eram americanas, 22 alemãs, 11 holandesas, 11 italianas, 9 inglesas. As multinacionais detinham mais de 50% das vendas e o ranking do faturamento era o seguinte das 10 empresas que mais faturavam no Brasil apenas 2 eram brasileiras .
Desse modo, o milagre econômico durante a ditadura militar seguiu o padrão brasileiro de modernização: excludente e selvagem. De arautos do moralismo, da justiça e do desenvolvimento, os militares não passaram de um instrumento nas mãos da elite econômica brasileira - do seu estamento – para manter intactos seus interesses e privilégios que viram ameaçados pelo governo de João Goulart.
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