O censo de 1872, realizado logo após o retorno do imperador de uma viagem à Europa, vai revelar a verdadeira cara do Brasil no século XIX. Éramos um país atrasado e com muitos desafios para serem vencidos. A escravidão era a principal delas. Na província do Rio de Janeiro havia 292.637 escravos, em sao paulo 156.612, em minas gerais 370.459 e na bahia 167.824. Outro aspecto da pesquisa revelou o quão a sociedade brasileira ainda era rural e agrícola. As profissões agrícolas venciam disparado qualquer outro tipo de atividade: havia no país 3.000.000 de trabalhadores ligados ao campo. 19.000 manufaturas. 968 juízes, 1647 advogados, 493 notários, 1024 procuradores, 1619 oficiais de justiça, 1729 médicos, 238 cirurgiões, 1392 farmacêuticos, 1197 parteiros, 3.525 professores e 10.710 funcionários públicos. Esse quadro revela a dimensão da dependência do país para o campo e o atraso em que se encontrava em relação as nações européias e aos Estados Unidos, já imbuídos pelo espírito da revolução industrial e pelas ideias do liberalismo econômico e político. Outro dado nos revela um quadro assustador: se tomarmos apenas a cidade do Rio de Janeiro, que era a capital do império – dos 133.000 habitantes do sexo masculino e livres, apenas 65.000 sabiam ler e escrever, enquanto 68.000 eram analfabetos. Esse número aumenta significativamente se tomarmos os habitantes do sexo feminino. Esses números revelam o descaso total com o povo. Na verdade, segundo Darcy Ribeiro “nunca houve aqui um conceito de povo, englobando todos os trabalhadores e atribuindo-lhes direitos [...] a primazia do lucro sobre a necessidade gera um sistema econômico acionado por um ritmo acelerado de produção do que o mercado externo dela exigia [...] em consequencia, coexistiram sempre uma prosperidade empresarial, que às vezes chegava a ser a maior do mundo, e uma penúria generalizada da população local” .
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