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A HISTÓRIA PARA QUEM TEM PRESSA EM APRENDER

MARCOS COSTA

Foto do escritorMARCOS COSTA

JOÃO GOULART

Nas eleições de 1960 quem vence é Jânio Quadros e mais uma vez João Goulart vence para vice presidente. A figura de João Goulart, com suas ideias socialistas, tão perto do poder incomodava as elites. Da primeira vez que apareceu na vida pública nacional havia sido naquele derradeiro mandato de Vargas. No governo JK voltara como vice presidente e agora outra eleição sucessiva. No dia 19 de agosto de 1961 Jânio Quadros condecorou com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul ninguém mais, ninguém menos do que Che Guevara. Dois anos antes, em 1959, a revolução cubana havia implantado o comunismo em Cuba.

Em plena guerra fria e com empresas e bancos americanos tendo investido milhões de dólares no Brasil, essa aproximação de Jânio com Cuba e os antecedentes de João Goulart, já velho conhecido por suas posições de esquerda, fizeram com que se eriçassem os pêlos dos militares e da burguesia brasileira. Depois de um período navegando em águas tranquilas no período JK, no meio desse novo caminho certamente haveria tempestades. Todos de sobreaviso, todo cuidado era pouco, era preciso acautelar-se. O grande problema ou a sinuca de bico na qual se encontravam os donos do poder no Brasil era que: articular a saída de Jânio Quadros era conduzir diretamente ao poder João Goulart. Nesse jogo intenso que se iniciou pelo poder, onde tanto Jânio como Jango eram personas non gratas, as elites desenvolveram uma saída engenhosa. Uma conspiração.

A estabilidade política no Brasil sempre dependeu da relação que o presidente mantinha com os militares e com a elite econômica. O termômetro era a aproximação ou a distância que mantinha dos sindicatos e dos movimentos sociais. A manutenção da chamada “ordem” era fundamental para arregimentar o apoio das elites econômicas e militares. Existe um ponto de equilíbrio que é chave para todo aquele que queira permanecer no poder no Brasil, para todo governo. E a equação fundamental é manter as forças sociais sobre controle, um bom relacionamento com os militares e ser generosos com as elites econômicas. Todo governo que, de uma forma ou de outra, desequilibrou esse complexo equacionamento, essa complexa polarização, pendendo para um lado ou para outro, caiu. Foi assim com Vargas e vai ser assim, como veremos, com João Goulart. O problema do governo Juscelino era João Goulart, que estava atravessado na garganta da elite brasileira como um espinho desde o mandato de Getúlio Vargas quando, como vimos, havia sido Ministro do Trabalho e pivô da grande oposição que sobreveio sobre Vargas levando-o ao suicídio.

Seis meses após o encontro com Che Guevara, o mandato de Jânio Quadros ruiu, segundo seu próprio depoimento, carcomido por forças poderosas. Visto agora, passados 60 anos, é possível inferir que da forma que se deu, a renuncia de Jânio foi uma conspiração. A viagem de uma comitiva brasileira para países comunistas como China e União Soviética, encabeçada por João Goulart foi a gota d’água para os opositores no Brasil. Na natureza nada acontece de acordo com a vontade dos homens. Já na história, tudo acontece pela vontade dos homens. Os homens é que fazem a história. Desse modo, a renuncia de Jânio Quadros aconteceu não “enquanto” Jango esta em viagem aos países comunistas, mas aconteceu “porque” Jango estava em viagem aos países comunistas.

Enquanto a comitiva seguia seu périplo, Jânio Quadros era, no Brasil, colocado contra a parede. No dia 25 de agosto de 1961 Jânio renuncia. O primeiro passo estava dado. Para os militares era importante que a renuncia de Jânio ocorresse no período da viagem de João Goulart. Na ausência do vice presidente, que constitucionalmente deveria assumir o posto, quem assumiu a presidência foi o presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli. O segundo passo estava dado em direção ao golpe. Não tenha dúvidas, embora não haja documentos, de que tudo estava milimetricamente articulado. Os militares e as elites econômicas estavam esperando apenas a oportunidade e ela surgiu no momento em que se começou a articular a viagem de João Goulart ao leste europeu e à china. Assim que o vice presidente colocou os pés fora do país a conspiração deslanchou. O golpe militar só não se consumou por que surgiu entre os militares uma dissidência. No Rio Grande do Sul, surge uma resistência civil e militar ao golpe – João Goulart era gaúcho – a chamada Campanha da Legalidade, encabeçada pelo então governador Leonel Brizola. Diante do impasse, decidiu-se que João Goulart só poderia assumir o poder se o regime de governo fosse alterado de presidencialismo para parlamentarismo. Em 2 de setembro de 1961 foi implantado o regime parlamentarista no Brasil tendo como presidente da república João Goulart e como primeiro ministro Tancredo Neves. Só assim os militares consentiram o retorno de João Goulart.

Em janeiro de 1963, no entanto, por meio de um plebiscito, João Goulart consegue fazer passar a volta do modelo presidencialista, sendo extinguida, portanto, a figura do primeiro ministro. Com plenos poderes, João Goulart parte para o ataque. Do outro lado, os militares, derrotados, conspiravam.



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